Convite Gisele e Vinicius



Eu te amo, homem, 
como jamais imaginei amar alguém assim.
Amo esse seu silêncio monástico e essa sua calma 
que só sua alma contempla.
Amo o seu jeito manso de caminhar 
pisando bem de leve as minhas manhãs.

Amo os seus lábios nos dois lados de minha face,
pois você se nega a conceder-me apenas um beijo
ou apenas a metade desse amor que transborda do seu olhar,
do toque de suas mãos, do aconchego do seu abraço.
Amo caminhar ao seu lado pelo seu jardim:
confesso segredos que só meu coração guarda.

Amo os rabiscos que sua mão vai colorindo
no papel da minha vida e, sem que eu perceba,
lá estou eu, sob todos os ângulos,
única personagem do seu desenho:
- moça de chapéu, de vestido rendado,
à porta da varanda da sua sala de estar.

Amo vê-lo acender o fogo,
colocar água na chaleira
e esperar o apito do ponto de ebulição,
tão fremente, como o sangue que corre em minhas veias,
a mercê do adorável aroma
de chá de capim cidreira e hortelã.

Amo servi-lo.
Amo contemplar a delicadeza de seus lábios
na borda da xícara de porcelana herdada de seus antepassados.
Beijo-os.
Também beijo seus pais, seus avós, seus bisavós
e todos os homens e mulheres que se amaram para trazê-lo a mim.

Amo esperar a tarde cair e o céu estrelado chegar,
deitada sobre a grama, no tapete voador dos nossos sonhos.
Ao seu lado, eles disparam.
Amo seguir o seu dedo indicando-me as constelações de Áquila e Pégasus,
o compasso e o esquadro de Circinus e Norma
e tantas outras estrelas reunidas para nos encantar.

Amo circunscrever no céu a lua cheia
só para balançar bem alto na corda inferior do traçado
e jogar a outra ponta do balanço ao alcance de seus braços.
Amo tê-lo nas alturas e vislumbrar tudo o que há de belo nesse mundo!
Amo contemplar a noite que se despe
e o sol que se veste de aurora para nos saudar!

E quando o dia amanhece e o sono nos dá a mão,
descemos até o chão
e, sem que se pronuncie uma só palavra,
sabemos que o amor se faz presente,
à espera do toque dos ponteiros das horas
do nosso coração.

E quando Eros soa o sino, encosto meu ouvido no seu peito,
beijo o seu coração formoso – o lado de dentro e o de fora –
a sua face direita e a esquerda, e faço um único pedido:
que esse amor perdure por todos os dias que durarem nossos dias,
até o nosso último pôr do sol,
até o último raio de luz!


JURACI FARIA/MANTO SAGRADO
Lorena, Light House Editora, 2013/pp. 85 - 87

Poema Classificado em 3º Lugar no VI FESTIPOEMA
Troféu Balthazar de Godoy Moreira/Pindamonhangaba, 2012

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